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Michel é um garoto de 12 anos, mora na favela da Rocinha no Rio de Janeiro e passa o dia vendendo picolé na praia. Toda a renda vai para a família, que ajuda os pais a sustentar seus outros três irmãos menores. Michel tem um sonho. Um videogame. Ele tem um, um megadrive que ele ganhou do filho da patroa da sua mãe, mas ele sonha com um Xbox 360, com console wireless, para jogar Call of Duty, que ele conheceu em uma loja de eletrônicos. Só que nem em sonho ele imagina juntar os R$ 1.000,00 que pedem na internet por um modelo usado. E assim, o sonho continua sonho enquanto ele esfola os pés nas areias escaldantes de São Conrado.

Qualquer garoto em situação semelhante se conforma com sua condição e logo esquece o sonho, preferindo coisas mais tangíveis como jogar bola e zanzar à toa pela cidade, mas Michel é diferente. Embora ele saiba que as perspectivas de juntar R$ 1.000,00 vendendo sorvete a mais do que já vendia era praticamente impossível, ele tem uma doença rara na sua classe social chamada Esperança. Ninguém contou para ele os números que indicam a probabilidade dele ser convertido para o tráfico dentro de mais um ou dois anos. Ninguém contou para ele que a maioria dos jovens da sua idade acabam com um sub-emprego não muito diferente de vender sorvete.  Mesmo assim, seu sonho de ter um Xbox continua vivo.

Ele caminha pela praia e começa a perceber algumas coisas. As mulheres deitadas para pegar sol sempre protegem o rosto com uma toalha, um chapéu, uma canga, a maioria em suas cadeiras de praia. Ele pensa… reflete… De repente, corre para sua casa, pega algumas ferramentas e vai a um lixão, acha uma cadeira de praia velha, serra uns pedaços da armação, corta um pedaço do tecido, volta para casa, costura, amarra, prende. Faz alguns testes, experimenta, mas não dá certo, vai à papelaria, compra umas presilhas, pede algumas coisas emprestadas a uns amigos, testa novamente, faz alguns ajustes e pronto! Finalmente dá-se por satisfeito.

No dia seguinte, começa sua rotina do sorvete, mas desta vez, ele tem algo mais. Uma moça acaba de chegar na praia, ele corre para ela e oferece sua invenção. Ela não entende nada, fica incomodada com o garoto, diz que não quer sorvete. Michel insiste e resolve mostrar para ela. Pega sua invenção e acopla à sua cadeira de praia. Mesmo assim, ela parece não entender o que é aquilo. ‘Burra!’ pensa ele. Faz ela tirar o chapéu e se deitar na cadeira. Agora sim! Ela ficou encantada com o Pára-sol, um acessório adicional à cadeira para as mulheres não precisarem ficar com um pano na cara ou ficar se equilibrando no guarda-sol para proteger só o rosto e deixar o corpo no sol. Michel complementa: ‘Você não precisa ficar ajustando a cadeira o tempo todo conforme o sol anda’.

Ela compra. Ele nem sabe o preço, nem parou para pensar. Pede R$ 10 e ela aceita na hora. ‘Acho que está muito barato’, ele pensa na hora. Logo, volta para casa depois do expediente e começa a trabalhar em outros pára-sóis. Em pouco tempo, se dá conta que vende mais pára-sol do que sorvete. Não demora para que as pessoas o procurem. O modelo é aperfeiçoado, melhorado, fica mais bonito, ele varia as cores. Deixa de procurar restos no lixão e compra ele mesmo a matéria-prima. Não demorou mais de 4 meses e ele está feliz, somando o dinheiro que juntou e indo em direção à loja de videogames. No caminho, ele passa pelos fundos de um restaurante no exato momento em que o cozinheiro está jogando o lixo. Sem querer, Michel percebe que tem muita comida boa sendo jogada fora , pensa logo em pegar um pouco para levar para casa, mas de repente, seu olhar se perde ao longe, ele olha para o lixo, olha para o dinheiro, olha para a loja de videogames, olha novamente para o lixo… e dá um sorriso!

Por: Marcos Hashimoto, consultor e palestrante nas áreas de Empreendedorismo, Estratégia e Liderança e voluntário do Instituto Empreender Endeavor.

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